quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Domingo de Luz


Por dentro aquele sabor de fruta mais do que madura, daquela que a gente esquece lá no fundo das bagagens de supermercado das quimeras. Delírios de segundos cadernos onde quase tudo é permitido, eis que me vem uma balada triste que me faz lembrar alguém, alguém que não existirá jamais. Mania de querer enquadrar todas as paixões e mal-querenças nos meus modelos, até hoje converso com Lacan para deixar ou pelo menos tentar aprender a deixar que o outro seja. Lá fora é domingo, na casa e na angústia não há calendário. Que tal passear no Campo de São Bento com esses anseios e sem nenhuma assepsia arrancar do peito esse grito, um grito de silêncio permeando a Mário Viana. Domingo é dia de pescaria e lá vou eu no bloco do que será ou seria se eu tivesse escutado o que mamãe calava. Outra vez vou falar mal do mundo até às próximas eleições. Olha que a vida é tão linda, é febre, sim, a vida é febril e para este bom mal não há remédio coração. Ninguém tem culpa da minha desolação. Vou caminhando de braços com a ambigüidade. E em pleno calçadão de Icaraí
Escolher o sabor do sorvete, questão crucial. Quero mocotó, é um barato very sexy. Nossa, como me falta contemporaneidade: se alguém perguntar o que é o baião eu saberei dizer... Maxixe não é só um ensopado. E saltimbancadeando pelas ruas, o que fazer da vida? Uma trilha sonora, uma dança, uma peça. Bom decorar com glacê tudo que for amargo de engolir, pare de dourar a pílula, está todo mundo de ressaca moral e cívica. Ninguém agüenta mais. Agora, sinto meu corpo vibrar solavancado, sentado no banco da viação 53. Chegando em casa é Fantástico, teu travesseiro vazio, dou graças aos céus, vou me espalhar na cama. Eu sou feliz tendo você sempre afastado.Cansaço, cansaço, cansaço, cansaço, afinal, de me fazer tanto bem escrevendo, minha cabeça estava um lupanar, como sou antiga, de onde tirei isto? Alguém da porta da Colombo me sussurrou que a vida é ensolarada, como um flash, apenas um pouquinho - você vai adorar. Sabor da laranja fresca; não aquela fruta lá de cima de quando comecei esta ‘croniqueta’ que não-sei-bem-se-é-gostaria-que-fosse, mas sou apenas alguém que se derrama nas palavras. Indefinida, imprecisa, mas que depende da sua boa vontade, íntimo leitor, se é que você me entende. No fundo somos todos iguais nesta noite. Tudo pode ser dito, de uma maneira ou de outra. Escuta, vou lhe mandar um recado: quem sou eu pra ter direitos exclusivos sobre ela: a dona palavra. Venha de onde vier, chegue de onde chegar, é no mínimo nossa salvação. Bendita palavra. A que nos move agora, eu cheia de dedos e você todo ouvidos para me receber ou ler ou rasgar. Quem sabe, mas tanta coisa que eu tinha a dizer, são só 35 linhas tenho que caber toda nessas mal traçadas linhas. Nossas vidas andam juntas mesmo no desconhecimento de causa, as dores os prazeres são humanos e assim iremos. De 53 ou em 35 linhas.

Dayse Mary de Andrade

Um comentário:

Cinemusique disse...

muito lindo... escreve mais e mais!
beijos
p.s.: coloca o da "praia rasa" no blog! bjs