sexta-feira, 14 de maio de 2010

Carinho de bêbado.

Carinho de bêbado não tem dono.Muito menos o coração.Bêbados são vira-latas do amor, com cartela de vacinação vencida e sem coleira.Vagueiam pelas noites remexendo, cheirando e buscando outros corações na imensa lixeira do existir.Mas certas mulheres intensas de vidas febris, jardineiras do afeto,
vão colhendo esses bêbados-lírios no lamaçal dos bares, em meio a ervas daninhas de angustiadas sensações.E pronto:surgem dois infantis corações, flores da noite, que tentam encaixar seus espinhos, se arranham, se beijam em qualquer vão momento.E brevemente, em qualquer viés da emoção pedem uma saideira da purinha ilusão.E outras noites virão , pois carinho e coração de bêbado não teem dono.

Poema em Dilúvio



Meu coração doidivanas,
romântico , imediato,
quer te dizer nesta tarde,
que,pensando em ti
neste momento exato ,
de tão comum e mediano
é muito menos Fidel:
Mais Waldick Soriano!
Meu coração demente,
bipolar,cheio de arquivo,
te rascunhou definitivo.
E de Ventura assim quer Zuenir,
de quimera em quimera,
nesta cidade partida.
Desde sessenta e oito
não apaga esta chama ardente,
e algum tempo depois,
e mais algum tempo atrás
ainda ficou te esperando
naquela praça da paz.
É Veríssimo.
Até dos ditosos Budas
queria a calma absoluta
para te dizer abertamente:
cinquenta e oito não devia ter acabado
pois lá deixei em aberto
tua ternura tão antiga
num disco de João Gilberto.
Desembocada e sem trema
me afogo num triste dilema:
desafino aqui
num dó maior e sem fim
por ti,ó moço bonito
que nem chegou de mim mais perto(só na canção de Jobim).
Tua lembrança é minha droga
que me acalma e satisfaz(ai de mim , que só quero ouvir estrelas!)
Há muito vivo sem prozacs
Por "ora"só te direi
menos chão e mais Bilacs.
E das canções que agora "as oiço"
na vitrola empoeirada
úmido trago um penar
à boca, vazia de teus beijos,destemperada.
Pois , o que me restou:
mil solidões diluidas
em dores,
nunca por ti percebidas.

O coração partido in vitro,
num Armstrong sem gelo
e em de
"la vie en vie e en rose" padeço de ti,
absurdamente
intensa, ó amor, amor, dor feminina, errado artigo!
E teu coração me recolhe, quebradiça , mas em loa
num dizer de Pessoa,
e me varre assim para o canto da tua sala,de estar longe.
A poesia açougueira me retalha e,
presa em ti, minha senzala,permaneço,
pois para ti ainda guardo,"my stranger boy",
minha casa-grande deste infinito querer.
Meu divino, gracioso ser.



Dayse Mary de Andrade