segunda-feira, 25 de janeiro de 2010




Voltei da rua, comprei pão e remédio de mosquito, na rua só as farmácias abertas como se o brasileiro fosse muito doente, em cada rua mais de 3 farmácias. No Brasil compra-se remédio para qualquer coisa... menos para o abandono que sinto dentro do peito neste domingo à noite, onde compro um pãozinho para o filho que vai estar aqui daqui a pouco, mas não para sempre. Converso com a caixa loura da padaria, falo da solidão da rua... mas a fila anda, ela me despacha rápido me respondendo sem saber bem do quê estou falando. Atravesso a rua, encontro um amigo antigo, mal começo a falar ele se despede atarantado, um beijo rápido e sinto seu corpo deslizando no abraço em movimento do adeus. Queria falar da festa dos 60 anos do nosso amigo comum, mas também não deu tempo. Ninguém tem mais tempo. Penso nos suicidas. Se alguém chegasse na hora e impedisse a queda ,ou tirasse a arma da mão, ou servisse uma água com açúcar, ou chamasse a emergência antes do surto, ligasse a televisão no Sílvio Santos que este, ah , sempre vem aí, se prestasse atenção no olhar de quem pede socorro... mas ninguém tem tempo.
Assunto é o que não me falta, não precisa nem prestar muita atenção, leia-me sem muito cuidado . Também não tenho tempo de ficar aqui escrevendo, quero ler o jornal de hoje, de leve, só os títulos, passar os olhos numa página pelo menos dos dois livros da hora. Um , é claro, "Minutos de sabedoria". Abrir aleatóriamente uma página e acreditar ... no momento de aflição dominical.
Ouvir só uma ou duas faixas do LP que me faz lembrar você.É o que há.
Ainda estou ontem, num clube à beira do mar, amigos de quatro décadas, ex-amores com suas eternas companheiras, que escolheram seguir à risca o velho e bom "na saúde e na doença", mesmo que a doença deles fosse a "traição", o que não relevei em amor nenhum.
Por dentro o tempo congelou cada episódio , cada amor vivido , os bons e os maus. Amor bom é amor morto. Principalmente os bandidos, os "fora da lei " dos homens, os de samba-canção,os que me deixavam sozinha antes do amanhecer mas providenciavam um bilhetinho que ainda os guardo. Os que me fizeram "aquela uma ", mas com o maior orgulho . Amei sim e não esqueci o seu nome, não estou nem aí mas não sou mais "aquela". Dos amores só escolhi a saúde , não deixei passar o sapo na garganta, não enxuguei a lágrima nem calei o queixume. De tudo sempre quis viver só a ventura , me encharcar nos teus beijos, arder na febre do calor que eras , pular de olhos fechados na piscina dos seus braços ( que não sabia vazia), escrever poemas e cartas ,enviar com mechas de meu cabelo claro- castanho que era. Guardar sua camisa escondido para vestí-la na hora da ausência.
Sempre hei de esperar pelo amor à meia-luz, minha camisola será sempre a do dia, e o próximo amor será o dono de tudo, do meu já não tão divino conteúdo. O que nunca consegui foi ocultar a paixão desmesurada por ele , esse tal sujeito - o sentimento - mais do que o objeto sou absurdamente apaixonada pelo amor. Mesmo que os amores de ontem me olhem alhures ou sorrateiros .Sem caminho do meio ,em qualquer margem,começaria tudo outra vez ... a vitrola ainda toca aquela música que dançamos tantas vezes ... a sua voz me acalmando. Mas tudo sempre acabava em dois para lá e eu para cá.
O melhor amor é sempre o penúltimo , e se ele não existe , invento . É o que faço agora. Crio e destruo sempre hoje, nunca deixo para depois.

Dayse Mary de Andrade janeiro de 2010.

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Um comentário:

Eliane disse...

Dayse,visitei sei blog e já li algumas poesias.Como vc diz:visite meu blog,você vai gostar.Realmente,gostei.Parabéns!Coisa bonitas escritas e bonitas bijouterias,que jáconheço,mas as fotos ficaram lindas!
Eliane